ARTIGO DE OPINIÃO SOBRE A REGIÃO ANGOLANA DO OKAVANGO

Compartilhe esta notícia

Share on facebook
Share on linkedin
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email

O amanhecer avermelhado entrava cautelosamente pelas aberturas da minha tenda. Abri o zíper e entrei no paraíso. Ao fundo
De um prado verdejante, do outro lado do rio, estava o impossível:
Envolto em uma nuvem de poeira, um rebanho de mil
búfalos que avançavam lentamente entre os moos(som emitido pelos Búfalos).
Por poucos minutos, fiquei naquele lugar eternamente.
Horas depois, a cem metros de distância, o pôr do sol fez-se presente. Num recanto do rio, mais de trezentos elefantes despediram-se do dia bebendo e banhando-se na água alaranjada.
Naquele primeiro dia no sul de Angola, a natureza estava
uma hipérbole. Linda, livre e selvagem. Ainda intocada.
Foi o Miquel quem me disse que havia a possibilidade de
entrar naquele Éden. No final de Junho, o meu amigo Miquel Ribas, Director de Operações da Kananga, explicou-me que talvez eu pudesse conseguir autorizações para explorar o Parque Nacional de
Luengue Luiana, no sul de Angola. Quando ele me contou, concordei em acompanhá-lo imediatamente porque sabia que não poderia ser:
Não há fronteira aberta entre Angola e Namíbia na faixa
de Caprivi e da região, esconderijo de Jonas Savimbi, líder do Partido rebelde da Unita durante a guerra civil, está isolada há décadas, além das minas antipessoais.

Entrar em Angola pelo sul? Eu respondi: Não acredito.

Miquel, entusiasmado, elétrico e caótico,
respondeu sem exitar:

Será uma das melhores viagens da tua vida.

Sua palavra de honra foi uma aprovação. Embora os trabalhos de desminagem estejam avançados e seja considerada uma zona livre de minas e
dispositivos explosivos, o sul de Angola ainda é uma terra desconhecida. Guias e guardas florestais do Okavango, que conhecem o solo do Botswana, Namíbia, Zimbabué e da Zâmbia como a palma da mão, encolhem os ombros quando falam de terras angolanas. Ninguém sabe. Ninguém vai.

Mas nós fomos. Depois de cruzar a fronteira na ponta dos pés e sem
visto, acompanhados por uma delegação de conservacionistas e representantes governamentais, que viajou desde
Luanda para abrir portas, entramos numa terra desconhecida e lenta também. Sem estradas, o único caminho a seguir era através de caminhos de areia em ziguezague.
Essas estradas serão portas. Se as intenções do governo angolano se concretizarem, o sul de Angola abrir-se-á definitivamente à Área de Conservação Transfronteiriça Kavango Zambezi (KAZA), que protege e conecta a maior área transfronteiriça do mundo de vida selvagem entre o Zimbabué, o Botswana, a Namíbia, a Zâmbia e Angola, com uma área maior que a de Espanha.

Algo está a mudar em Angola. Com uma economia focada no petróleo, o executivo de Luanda vê a natureza como uma rica fonte de diversificação de rendimentos. No final de Setembro, deu um passo fundamental:
Resolveu isentar pela primeira vez vistos a turistas de mais de 90 países, incluindo Espanha.
Em breve, os corredores naturais que ligam o Okavango ao sul de Angola permitirão a livre passagem de milhares de elefantes e outros animais. Os especialistas estimam que o número de elefantes multiplicará em 10 anos. Será uma explosão da natureza sem precedentes. O penúltimo éden selvagem da África. Ainda.
Ver Mais

Outras Notícias